O último capítulo de Denise Oliveira, procura compreender como era a experiência de escutar som fonográfico há quase 100 anos, quando o fonógrafo e os discos estavam presentes em discursos que buscavam domesticar e institucionalizar essa tecnologia considerada então símbolo da modernidade.


No Brasil, o esforço de legitimação da fonografia empreendido por vários atores – de comerciantes a músicos profissionais, de intelectuais brasileiros à Liga das Nações, precursora da ONU – se consolidaria no anseio pela criação de discotecas públicas, cujas bases se encontrariam num ideal de construção de um futuro progressivamente melhor a partir dos avanços tecnológicos vividos no presente, este, de forma ambígua, alicerçado em um passado já bem conhecido e tido como legítimo e mais seguro.


Sobre a emergência de tecnologias e os símbolos da modernidade, a autora afirma que mesmo com a percepção de que as novas tecnologias superam as anteriores, “no reino das práticas, as fronteiras da linearidade se dissipam facilmente: tempos e tecnologias se cruzam, se chocam e contribuem mutuamente para a existência uns dos outros, por mais que omita ou se diga o contrário na tentativa de estabelecer uma ordem sobre aquilo que ainda causa desconfiança e receio. Nos anos 1920, a construção de um presente e de uma expectativa de futuro com a tecnologia fonográfica necessitou do mundo pretérito da escrita, que jamais deixou de existir, mas, certamente se transformou no contexto do contato com a fonografia e no processo de constituição das relação que dela engendraram”.

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