Dos “negros modernos”: sobre personagens, debates e experiências ausentes, c. 1920, São Paulo, por Flávio dos Santos Gomes

O capítulo de Flávio Gomes, apresenta um panorama da atuação dos intelectuais negros na década de 1920 por meio de uma imprensa negra em São Paulo, formada por inúmeros periódicos que defendiam agendas que articulavam narrativas e expectativas de inclusão. Essa militância se tornou especialmente importante considerando as ideias racistas que depois de décadas da abolição continuavam dominantes no cenário político dos anos 1920.

Primeira edição de O Clarim, de 06/01/1924. Acervo Imprensa Negra Paulista/USP.
O Clarim D’Alvorada, de 15/11/1927, com destaque para seus fundadores, Jayme Aguiar e José Correia Leite. Acervo Imprensa Negra Paulista/USP.

As manifestações racistas mostraram-se especialmente chocantes quando, em 1921, emergiram projetos e debates que advogavam promover uma imigração de negros norte-americanos para o país. A reação negativa a essas iniciativas, sob a alegação de que uma imigração negra poderia despertar o ódio racial, deixava evidenciado o arraigado preconceito racial e as enormes dificuldades de inclusão da população negra na sociedade brasileira. Numa conjuntura em que estavam em curso eventos políticos e culturais comemorativos pelos 100 anos da Independência do Brasil e ressaltava-se a importância de uma unidade da nação, os negros estariam de fora desse projeto.

Flávio Gomes afirma que “No início dos anos 1920, a possibilidade de imigração negra norte-americana, a criação de agências de colonização comandadas por empreendedores afro-americanos e a concessão de terras se transformaram em temas explosivos revisitando a opinião pública, parlamentares, políticos e intelectuais de várias matrizes. Narrativas sobre branqueamento, entre o ‘elemento estrangeiro’ versus o ‘elemento nacional’, reverberaram com a ideia de raça incluindo sentidos de ‘etnia, língua, nacionalidade e religião’. Na ocasião, os argumentos contrários destacavam que os negros norte-americanos não falavam a língua portuguesa, não professavam o catolicismo, e, supostamente pior: poderiam trazer o ódio racial, brancos versus negros”.

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